Em antigos jornais
Procuro
Um escrito curioso
A emprestar sorrisos
Ao leitor da coluna.
1º – Naquele tempo, em que os anos corriam por 1950 e mais antigamente, por incrível acreditar, o Trem Caxias nunca chegava no horário na Estação de Montenegro. As crianças brincavam na plataforma e perguntavam: – “o trem já vem”? Muitos desciam até os trilhos e colocavam o ouvido no trilho, para ouvir se o trem se aproximava (um trem que tivesse passado a ponte da Mariazinha, podia se captar seu movimento, pelo som que os trilhos transmitiam).
Pois foi assim, que a pobre da dona Beatriz, já sexagenária e claudicante, chegou a Estação para pegar o trem até Cafundó (Santos Reis); ia visitar a irmã. A dona Beatriz era uma frequente passageira do Trem Caxias. Naquele domingo, a nossa viajante, antes de comprar a passagem, no carro de segunda, casualmente encontrou com o seu conhecido Benjamim e resolveu jogar conversa fora.
O seu Benjamim era um idoso, já meio estropiado das ideias, mas atento ao movimento dos trens e de passageiros que aguardavam na gare da estação. Morava nas imediações da Estação Férrea e constantemente presente na chegada e partida dos trens. Era um homem de confiança, como todos diziam.
Na oportunidade, a dona Beatriz perguntou ao Benjamim:
– Seu Benjamim: Que horas chega o trem das oito e meia?
– Pois minha senhora, hoje parece que vai chegar pelas nove e meia.
2º – Ao tempo do início do século XX, Montenegro contava com muitos redutos em que predominavam casebres de madeira, onde se acomodavam cachaceiros e gatunos. Ao fim da rua Coronel Antônio Inácio havia um grande aglomerado de casinholas e, também, na Esquina da Sorte (local onde aconteceram homicídios). Acontece que as ruas que corriam ao comprido terminavam na Rua do Cemitério (Osvaldo Aranha); ao seguir, sem ruas abertas, ficava um grande descampado.
Por aquele tempo, a Vila contava com algumas figuras folclóricas de grande expressão. SAPUCAIA, por exemplo, era um refinado tratante e habilidoso “afanador” (gatuno); gostava de visitar a casa do Coronel Álvaro de Moraes, que era um homem muito bom e nem sempre dava parte dos pequenos furtos. O Sapucaia não levava coisas de muito valor; galinhas eram favoritas ao saco que sempre carregava consigo.
O pior era quando ele bebia… E isto acontecia quase todos os dias. Ele sempre tinha uns réis consigo para a cachaça. De certo ele lograva algum incauto em suas andanças pela Vila e periferia. Era muito bem conversado e contador de causos. O Sapucaia morava na Esquina da Sorte, para onde se mudou; antes morava no prolongamento da Antônio Inácio, perto da linha do trem.
O Código Penal de 1890, então vigente, a contravenção penal de vadiagem, mendicância e embriaguez, tinha pena a prisão celular de oito a trinta dias. O julgamento era sumário e dava cadeia; a exiguidade do prazo oportunizava a reincidência.
Como sói acontecer, o Sapucaia era freguês de caderno; seguidamente era levado à presença do Juiz e costumava passar uns dias atrás das grades. Certa feita o Juiz perdeu a paciência com o Sapucaia:
– Tu aqui de novo? É a quarta vez em dois meses!
– Pois é doutor; mas a culpa não é minha. São os “Poliças” que me trazem aqui. Eu até me mudei pra mais longe.