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Senhor Dez Porcento

  • Agosto 14, 2024
  • Política
  • Editoria

Texto do economista André Burger postado por Políbio Braga

Faleceu Delfim Netto, economista da USP e influente tecnocrata e político de vários governos. Durante o regime militar, foi ministro da fazenda no governo Costa e Silva e Medici, embaixador em Paris no governo Geisel e ministro da agricultura e planejamento no governo Figueiredo. Com o retorno à democracia, em 1986, se elegeu deputado federal. Mais recentemente, era conselheiro de Lula.

Economistas brasileiros das mais variadas escolas de pensamento exaltaram o falecido. No site do jornal Valor de hoje (12.08), comentaram as imensas contribuições de Delfim ao País, sua sensibilidade para entender os problemas econômicos e seu espírito público. Um deles chega a considerá-lo o maior e mais influente economista do Brasil. Realmente a morte limpa os currículos, pois a gestão de Delfim na economia teve resultados desastrosos, colocando-o entre os mais incompetentes dos nossos economistas. Basta observar, durante seu tempo à frente da economia, o crescimento do endividamento público, as políticas de subsídios setoriais, o tabelamento de preços, o aumento do tamanho do estado e principalmente a inflação. Como ministro da fazenda, nos anos Costa e Silva e Médici, a inflação foi em média de 21% ao ano (calculada pelo IGP-DI da FGV) e como ministro do planejamento, sob Figueiredo, de 142% ao ano. É importante notar que o banco central, a autoridade monetária responsável pela manutenção do poder de compra da moeda, estava sob sua pasta nesses três governos.

Porém, a atividade de Delfim não se resumiu a depauperar a economia e destruir a moeda. Participou ativamente da criação do AI-5, aumentando o autoritarismo no País, do que nunca se arrependeu. Delfim se utilizou do autoritarismo para manipular as estatísticas econômicas oficiais mostrando inflações menores e crescimento econômico superior. Perseguiu jornalistas que criticavam a condução da economia. Como embaixador, no governo Geisel, foi objeto de detalhado relatório feito pelo adido militar na França, Coronel Raimundo Saraiva, segundo o qual Delfim e amigos teriam recebido propina para facilitar negócios de bancos franceses no Brasil. Nesse relatório, é dito que Delfim era conhecido no mundo diplomático francês como “Monsieur Dix pour Cent”.

Delfim Netto foi eleito deputado federal por São Paulo em 1987 reelegendo-se até 2007. Nesses 20 anos, foi líder ativo do venal Centrão. Em 2005, Delfim aparece como investigado na Lava-Jato por receber propina relacionada a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, em montante de 10% do total que iriam para os partidos PMDB e PT, cabendo-lhe estimados R$ 15 milhões por contratos fictícios de consultoria.

Lula, em nota de pesar, diz: “Durante 30 anos eu fiz críticas ao Delfim Netto. Na minha campanha em 2006, pedi desculpas publicamente porque ele foi um dos maiores defensores do que fizemos em políticas de desenvolvimento e inclusão social que implementei nos meus dois primeiros mandatos. Delfim participou muito da elaboração das políticas econômicas daquele período”. Nada surpreende essa manifestação do presidente. Desde 2002, primeira eleição de Lula, trocavam amabilidades. Delfim assumiu os conselhos da EBC (Empresa Brasileira de Comunicação) e do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). Em 2022 Delfim festejou as decisões do STF que permitiram Lula se candidatar à presidência.

Interessante que Delfim e Lula se assemelham em muitos aspectos. A simpatia por medidas e regimes autoritários. O envolvimento em casos de corrupção. A visão intervencionista do estado na economia. O centralismo administrativo. Enfim, aquilo tudo que sabemos, há muito tempo, ser danoso ao desenvolvimento da sociedade, fazendo perdurar a pobreza e a dependência do indivíduo ao estado.

Definitivamente um personagem da nossa história cuja morte não me compadece.

 

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