A visita do Papa à Indonésia está a gerar um entusiasmo enorme na população do país, maioritariamente muçulmana. Trata-se aliás do país do mundo com maior número de muçulmanos. Talvez esse facto faça alguém imaginar um ambiente de radicalismo, mas a realidade dessas terras do Estremo Oriente é tudo menos extremista.
Propositadamente, a grande mesquita de Jacarta foi construída perto da catedral católica e da igreja Emanuel da comunidade protestante, em sinal de amizade. Sukarno, «Pai Fundador» da Indonésia e primeiro Presidente depois da independência, empenhou-se pessoalmente na escolha deste local. O vencedor do concurso de arquitectura para a grande mesquita, foi o arquitecto Friedrich Silaban, de religião católica. Mais recentemente, as autoridades, encabeçadas pelo actual Presidente da República, Joko Widodo, decidiram escavar um túnel entre a mesquita e a catedral, para reforçar os laços de amizade com a Igreja católica. Há três anos, exactamente no dia 27 de Agosto de 2021, o Vice-presidente inaugurou o túnel, percorrendo-o acompanhado pelo Cardeal Ignatius Suharyo Hardjoatmodjo, Arcebispo de Jacarta, e por Nasaruddin Umar, Imã da grande mesquita, e um séquito de autoridades.
Para que serve este pequeno túnel, entre a grande mesquita Istiqlal e a catedral de Santa Maria da Assunção, a pouca distância, uma em frente da outra? Jogando com as palavras, podemos dizer que o túnel corresponde ao apelo do Papa Francisco de construirmos pontes. Talvez não haja muitos corredores subterrâneos que simbolizem tão expressivamente a unidade de um país, fundada na harmonia e no respeito pelas convicções religiosas de todos os cidadãos. Não admira que o Papa não tenha poupado elogios ao Túnel da Amizade.
O historial de delicadezas entre as comunidades muçulmanas e católicas é encantador. Quando os muçulmanos celebram a grande festa do Eid al-Fitr, altera-se o horário das Eucaristias na catedral para que os muçulmanos fiquem com mais espaço no parque de estacionamento da catedral. Em contrapartida, no Natal e na Páscoa, as principais organizações muçulmanas colaboram na organização e segurança dos fiéis católicos que afluem à catedral.
O túnel, com pouco menos de 30 metros de comprimento, está decorado com baixos-relevos do escultor indonésio Aditya Novali, representando a amizade fraterna entre pessoas de diferentes religiões. Nas paredes de ambas as entradas do túnel lêem-se frases muçulmanas e cristãs acerca da fraternidade.
Durante esta visita à Indonésia (2 a 6 de Setembro), o Papa esteve na grande mesquita e na catedral, mas, por razões de saúde, não atravessou o túnel. Contudo, terminada a visita do Papa, uma boa notícia aguarda os cristãos e muçulmanos de Jacarta: o túnel vai abrir permanentemente ao público. Assim, além de símbolo da amizade, vai permitir partilhar com mais comodidade os parques de estacionamento da catedral e da grande mesquita. Junta-se o útil ao agradável.