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Timor-Leste: Farol de Esperança entre Oceanos

  • Setembro 17, 2024
  • Religião
  • Padre Aires Gameiro

 

São tantas as mensagens de esperança caldeadas de sentimentos sobre a visita do Papa Francisco a Timor-Leste que se torna difícil abreviar este texto. O Papa Francisco fez ecoar o fenómeno Timor-Leste pelo mundo além. País apagado? De modo nenhum. Timor-Leste é uma luz que brilha e dá sentido. Já por diversas vezes ameaçado de cancelamento da sua identidade única no mundo, sendo a maior há 25 anos em que quase foi esmagado pelo gigante indonésio. Nos três dias em Timor-Leste, o Papa evidenciou a originalidade do País nos vários encontros com as autoridades, os sacerdotes, consagrados, seminaristas e catequistas; e a multidão dos 700 mil católicos.

Norberto Amaral, bispo da mais recente diocese, Maliana, atual presidente da Conferência Episcopal, ao saudar o Papa destacou as linhas históricas deste País “nos confins do mundo” e o Papa acrescentou: mas está “no centro do Evangelho”. Também foi saudado por um catequista ancião, um padre e uma Irmã religiosa. É um pequeno território, mas os seus recursos de Igreja suscitam esperança. Dos 1,4 milhões de habitantes, 98% são batizados e continuam a ser educados na fé católica por três bispos, 140 sacerdotes diocesanos, 207 sacerdotes religiosos, 108 religiosos não sacerdotes, 141 seminaristas do curso de filosofia-teologia; e ainda 282 membros de institutos religiosos masculinos e 742, dos femininos. A agência Vaticano News dá, ainda, 19.510 batismos em 2023. A diocese de Dili foi ereta em 1940 e atualmente é seu pastor o Card. D. Virgílio do Carmo, sendo o de Bacau D. Leandro Maria Alves e o de Maliana, D. Norberto Amaral, como se disse.

O Papa no seu discurso aos consagrados, na Catedral, a partir do episódio do Evangelho sobre Maria que derramou o perfume nos pés de Jesus, teceu exortações maravilhosas. Animou e alertou para alguns problemas e ameaças. O Papa verificou o que todos os visitantes experimentam, ao dizer: «É eloquente o gesto que, aqui, os fiéis têm quando encontram os sacerdotes: tomam a vossa mão consagrada e aproximam-na da fronte em sinal de bênção. É bonito ver neste sinal o afeto do povo santo de Deus, porque o padre é um instrumento de bênção».

Para ser sinal, o padre terá que ser pobre e não se arrogar ser “Senhor”, (“Amo”) como é tratado pelo povo, e cuide dos mais necessitados. E referiu na sua vista à Escola “Irmãs Alma” de crianças com deficiência: «Queridos irmãos, um diplomata português do século XVI, Tomé Pires, escreveu assim: «Os comerciantes malaios dizem que Deus criou Timor para o sândalo» (The Summa Oriental, Londres 1944, 204). Nós, porém, sabemos que existe um outro perfume (…): o perfume de Cristo, o perfume do Evangelho, que enriquece a vida e a enche de alegria». «O perfume do Evangelho deve ser difundido contra tudo o que humilha, deturpa e até destrói a vida humana, contra as chagas que geram vazio interior e sofrimento, como o alcoolismo, a violência e a falta de respeito pela mulher».

O Papa Francisco insistiu muito na adesão ao Evangelho e a Jesus: “o anúncio do Evangelho nesta vossa cultura purifica-a de formas arcaicas, por vezes supersticiosas”. Referiu, entre outros, dois pontos a terem em conta: respeito pelas mulheres e atenção às Irmãs e padres idosos.

Ao repassar imagens e discursos do Papa dei por mim a tele-revisitar este País incrível de uma identidade forte e assertiva que aquele Povo guarda, defende e desenvolve, e que tentei desvendar nas minhas visitas. A lusofonia parece ter progredido a julgar pelo facto de a visita do Papa se ter desenrolado em português. Estive duas vezes em Timor a dar formação, em 2008, e em 2012. O desfecho das minhas visitas resultou no livro “40 Dias em Timor-Leste”(2012) e, da segunda vez, versão mais extensa “50 Dias  por Timor-Leste…”(2023).Vivi agora a alegria de ler o que o Papa disse naqueles três dias e fiquei contente.

Há algumas coincidências nos pontos fortes e nas tarefas que os Timorenses precisam de integrar na sua identidade. O seu tesouro, disse, é a sua fé católica e as suas crianças e jovens (64% abaixo dos 30 anos).Os jovens, porém, esperam respostas de formação, empregos produtivos; e os pobres respostas de solidariedade, desenvolvimento e promoção do bem comum. Pergunta o Papa: «qual é a melhor coisa que Timor tem? O sândalo? A pesca? O melhor não é isso. O melhor é o seu povo. Não me posso esquecer das pessoas que me acolhiam nas bermas das estradas, com as crianças. Quantas crianças tendes! O que o povo tem de melhor é o sorriso das suas crianças. E um povo que ensina as crianças a sorrir é um povo com futuro. Mas, atenção! Porque me disseram que os crocodilos aparecem nalgumas praias: eles vêm a nadar e têm uma mordidela tão forte que não podemos enfrentar. Estai atentos! Tende cuidado com os crocodilos que querem mudar a vossa cultura, que querem mudar a vossa história. Permanecei fiéis. E não vos aproximeis desses crocodilos porque eles mordem, e mordem com força».

Tive ocasião de visitar, com alguma demora, uma dezena de países dos Oceanos Índico-Pacífico e foi Timor-Leste que me deixou impressões mais fortes sobre a sua Identidade resiliente de fé católica e lusofonia emergente.

Só as Filipinas, na fé, e Goa, na fé católica e lusofonia, se aproximam. Apesar da moda atual de criticar o colonialismo, devido aos aspetos negativos, não se pode deixar cancelar a grande riqueza da evangelização dos missionários sobre a questão que Jesus pôs aos Apóstolos: «e vós, quem dizeis que Eu sou?» (cf.Mc.8,27-35).E das respostas de vida de fé Nele, a humanidade, desde há dois mil anos, vive na Esperança.

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