Os Vikings são considerados os pioneiros na descoberta do bacalhau, espécie que era farta nos mares em que navegavam. Como não tinham sal, apenas secavam o peixe ao ar livre, até que perdesse quase a quinta parte de seu peso e endurecesse como uma tábua de madeira, para ser consumido aos pedaços nas longas viagens que faziam pelos oceanos.
Mas deve-se aos bascos, povo que habitava as duas vertentes dos Pirenéus Ocidentais, do lado da Espanha e da França, o comércio do bacalhau.
Os bascos conheciam o sal e existem registos de que já no ano 1000, realizavam o comércio do bacalhau curado, salgado e seco. Foi na costa da Espanha, portanto, que o bacalhau começou a ser salgado e depois seco nas rochas, ao ar livre, para que o peixe fosse mais bem conservado.
O método de salgar e secar o alimento, além de garantir a sua perfeita conservação mantinha todos os nutrientes e apurava o paladar. A carne do bacalhau ainda facilitava a sua conservação salgada e seca, devido ao baixíssimo teor de gordura e à alta concentração de proteínas.
Um produto de tamanho valor sempre despertou o interesse comercial dos países com frotas pesqueiras. Em 1510, Portugal e Inglaterra firmaram um acordo contra a França. Em 1532, o controle da pesca do bacalhau na Islândia deflagrou um conflito entre ingleses e alemães conhecido como as “Guerras do Bacalhau”. Em 1585, outro grande conflito envolveu ingleses e espanhóis.
Por isso, ao longo dos séculos, várias legislações e tratados internacionais foram assinados para regular os direitos de pesca e comercialização do tão cobiçado “Príncipe dos Mares”.
Os portugueses descobriram o bacalhau no século XV, na época das grandes navegações. Precisavam de produtos que não fossem perecíveis, que suportassem as longas viagens, que levavam às vezes mais de 3 meses de travessia pelo Atlântico.
Fizeram tentativas com vários peixes da costa portuguesa, mas foram encontrar o peixe ideal perto do Pólo Norte. Foram os portugueses os primeiros a ir pescar o bacalhau na Terra Nova (Canadá), que tinha sido descoberta em 1497. Existem registos de que em 1508 o bacalhau correspondia a 10% do pescado comercializado em Portugal.
Em 1596, no reinado de D. Manuel I, já se cobrava o dízimo da pescaria da Terra Nova nos portos de Entre Douro e Minho.
O bacalhau foi imediatamente incorporado aos hábitos alimentares e é até hoje uma de suas principais tradições. Os portugueses tornaram-se os maiores consumidores de bacalhau do mundo, chamado por eles carinhosamente de “fiel amigo”. Este termo carinhoso define bem o papel que o bacalhau tinha na nossa alimentação.
O bacalhau chegava a Portugal de várias formas. Até meados do século XX, os próprios portugueses aventuravam-se pelos perigosos mares da Terra Nova, no Canadá, para o pescar. Era uma epopeia dura e perigosa e muitos pereceram nesta faina.
Após a 2ª Guerra Mundial, com a escassez de alimentos em toda a Europa, o preço do bacalhau aumentou, restringindo o consumo popular.
Nos países católicos, os cristãos excluíam de sua alimentação a carne e o bacalhau sendo uma comida acessível, o seu consumo era incentivado pelos comerciantes.
Eis como o bacalhau passou a ter forte identificação com a religiosidade e a cultura do povo português, nomeadamente no Natal.
A todos Feliz Natal