Uma multidão imensa assistiu ao incêndio de joelhos, a rezar.
Notre Dame foi devastada por um incêndio e, cinco anos e meio depois, reabriu ao culto, limpa e reconstruída. Habituados a vê-la envolta em penumbra antes do incêndio, descobrimo-la agora tão luminosa e jovial como era no princípio, há muitos séculos.
O friso de celebridades (Trump, Zelenskyi, Macron…) presentes na inauguração (no dia 8 de Dezembro, grande festa de Nossa Senhora) ameaçava transformar Notre Dame em parque de diversões, no entanto, Deus continua a mandar naquela maravilha gótica.
Sintetizo algumas frases de um bombeiro que tinha abandonado a Missa durante muitos anos e não compreendia que Deus pudesse permitir o sofrimento. A entrevista completa está em https://les7routes.fr/elementor-3117/.
— «No trajecto, fomos tomando consciência da dimensão do incêndio. A multidão imensa, de joelhos, a rezar, era impressionante! Cantavam, rezavam. Sentia-se uma união incrível entre eles! Quando chegámos, a flecha ainda estava de pé e podia desabar a qualquer momento. Uma vez derrubada, deram ordem para entrarmos e recuperarmos alguns objectos de valor inestimável: algumas relíquias, a coroa de espinhos de Nosso Senhor, os pregos da crucifixão, etc. Fui um dos que receberam esse encargo e percebi que vivia um momento muito particular».
— «Quando entrei na catedral, havia um buraco na abóboda. Diante de mim estava o altar e o famoso crucifixo que apareceu muitas vezes nas fotografias. Essa cruz brilhava intensamente. Mas, atenção, não estava iluminada! Ela é que era a fonte de luz. Só ela se via no meio da escuridão. Senti nesse momento uma grande paz, senti que não tinha de ter medo de nada, embora aquilo fosse para mim o incêndio do século! Fiquei uns bons 10 ou 15 segundos, estupefacto, perante aquela visão. Depois, pus-me a trabalhar. Nunca me senti em perigo e isso foi um dos elementos que desencadeou a minha reconciliação com Deus. Aqueles fiéis a rezar prepararam-me e Nosso Senhor estava ali à espera para nos reconfortar. Era um sinal do Céu. Aquela visão mudou a minha vida!»
— «Evidentemente, agora vou à Missa, também aos dias de semana, sempre que possível. Voltei a rezar, procuro formar-me para compensar o que não aprendi durante os anos que passei longe de Nosso Senhor. Já fui crismado e estou feliz por aproximar outros de Deus, também acompanhando alguém no catecumenato».
— «A minha família viu a mudança e seguiram-me na conversão; a minha mãe voltou à Missa, outros parentes aproximaram-se da fé».
— «Deixem-me acrescentar duas coisas. Reparem bem naquilo que não sofreu derrocada, a Igreja, que permanece e sobrevive ao assalto das chamas. Não podemos esquecer isso! E sugiro aos peregrinos que façam cada manhã um pouco de leitura espiritual e de oração, porque ajuda muito. Começo todas as manhãs com Nosso Senhor. Não é fácil, mas vale a pena».
Não é a primeira vez que Notre Dame suscita conversões repentinas. Na noite de Natal de 1886, aquele que viria a ser o célebre escritor Paul Claudel, então com apenas 18 anos, sem prática religiosa, deambulava por Paris e espreitou…
— «Naquele momento, deu-se o acontecimento que domina toda a minha vida. Num instante, o meu coração foi tocado e acreditei. Acreditei com uma força de adesão tão grande, com uma tal elevação de todo o meu ser, com uma convicção tão poderosa, com uma certeza que não deixava margem para qualquer tipo de dúvida que, depois disso, nenhum raciocínio, nenhuma circunstância da minha vida agitada pôde abalar a minha fé, sequer tocá-la. Inesperadamente, tive a sensação penetrante (…): uma revelação inefável! A Providência divina serviu-se dos seguintes elementos para abrir finalmente o coração de um pobre filho desesperado: “Como são felizes as pessoas que acreditam! Mas era verdade? Era mesmo verdade! Deus existe, está aqui. Ele é alguém, um ser pessoal como eu. Ama-me, chama-me. Brotaram as lágrimas e os soluços, enquanto a melodia cheia de ternura do “Adeste fideles” reforçava a emoção».
Nossa Senhora, que os franceses chamam «Notre Dame», continua a servir-se desta sua extraordinária catedral para nos aproximar de si.