Emily Elizabeth Dickinson é uma poeta – ou poetisa – norte-americana, nascida no estado de Massachusetts, no limite da Nova Inglaterra, lá ela viveu toda sua vida, também lá publicou somente dez de suas obras, as quais compõem o total de 1800 poemas e algumas cartas.
Ela viveu toda sua vida no ambiente da fazenda e das árvores perenes de sua família. Após seu falecimento, a família encontrou 1750 obras, escritas a partir do ano de 1850. Como se vê, a autora é pouco conhecida durante sua vida, mas é considerada uma das figuras mais importantes da poesia americana.
Os poemas publicados eram geralmente editados de forma para se adequar às regras poéticas da época. Então, seus textos eram únicos, eles já continham linhas curtas, normalmente sem títulos, usavam letras maiúsculas e pontuação não convencional. Muitas de suas obras tratam de temas da morte e da imortalidade, e ainda dois tópicos recorrentes em cartas a seus amigos, também exploram estética, sociedade, natureza e espiritualidade.
Em sua enigmática literatura, a autora criou um idioma poético próprio, desprezando as fórmulas ou a regularidade convencional. A partir de elementos triviais, cotidianos, domésticos, do vestuário, por exemplo, bem como de pequenos seres da natureza, Dickinson dá vida às coisas, formando quadros considerados, por vezes, verdadeiramente surrealistas, ou melhor, contra o racionalismo.
Vamos aproveitar um pouco das cartas de Dickinson: aqui temos um início de um de seus textos: “Essa é minha carta ao Mundo / que nunca Me escreveu.”
Esses versos da autora costumam ser tomados como metáfora privilegiada para sua obra, escrita em relativa reclusão ao longo do século XIX. Enquanto publicou apenas seis poemas em vida, ela tinha o hábito de enviá-los a seus correspondentes, incorporando versos à prosa epistolar. Suas cartas são, portanto, fundamentais para compreendermos sua poesia e sua interação com o “outro”, atravessada por uma construção fortemente literária mesmo na correspondência mais cotidiana e pessoal. A seguir, vamos “utilizar” esta fórmula característica de missivas e poesias próximas umas das outras.
Primeiro, “Morri pela beleza”: ‘Morri pela Beleza – e assim que no Jazigo / Meu Corpo foi fechado, /
Um outro Morto foi depositado / Num Túmulo contíguo – / “Por que morreu?” murmurou sua voz. / “Pela Beleza” – retruquei – / “Pois eu – pela / Verdade – É o Mesmo. Nós / Somos Irmãos. É uma só lei” – / E assim Parentes pela Noite, sábios – / Conversamos a Sós – / Até que o Musgo encobriu nossos lábios – / E – nomes – logo após – ‘ A singularidade deste poema nos choca e nos leva a pensarmos que somos “Parentes” na vida e na morte: aqui estamos nós, aptos para um “abraço”.
Segundo, “Não sou ninguém” ‘Eu não sou Ninguém! Quem é você? / Ninguém – Também? / Então somos um par? / Não conte! Podem espalhar! / Que triste – ser- Alguém! / Que pública – a Fama – / Dizer seu nome – como a Rã – / Para as almas da Lama!’ Neste poema, conversamos com um interlocutor, afirmando a sua falta de estatuto social; declaramos logo no primeiro verso, que não é ninguém, ou seja, que aos olhos dos seus contemporâneos, não parece ter importância; parece ser uma figura estranha, que vive em isolamento, afastada dos círculos sociais (isso corresponde integralmente à disposição da autora).
Terceiro, “Morrer por ti era pouco” ‘Morrer por ti era pouco. / Qualquer grego o fizera. / Viver é mais difícil – / É esta a minha oferta – / Morrer é nada, nem / Mais. Porém viver importa / Morte múltipla – sem / O Alívio de estar morta.’ Estamos perante uma composição que trata de dois grandes temas da poesia universal: o amor e a morte; a autora declara que morrer pela pessoa que ama seria fácil demais, algo que se repete desde a antiguidade grega, e que por isso, afirma que a sua forma de demonstrar o que sente será outra, ou seja, ela vai viver em nome do ser amado e vai dedicar a sua existência à paixão que a domina.
Se a morte poderia ser sinônimo de descanso, a vida é apresentada como uma sucessão de sofrimentos e obstáculos que enfrentará apenas para ficar perto de quem gosta. E, isso sim, seria o verdadeiro amor.
Para concluirmos, deixamos a nossos amigos o pensamento essencial de nossa Emily Dickinson: “Nesta vida tão breve / De que nos dão só um gole / Quanto – quão pouco – está / Sob o nosso controle”.