O Papa passou esta semana no hospital e milhares de jornalistas apanharam o avião para Roma, para cobrirem as cerimónias do funeral. A informação do Vaticano é vaga, «o Papa passou bem a noite e tomou o pequeno-almoço; está sem febre», embora se acrescente que tem uma infecção grave nos dois pulmões. E, como sabemos, fez 88 anos em Dezembro passado. Diante do hospital, mantém-se uma grande multidão, muitos de joelhos, a rezar.
Por mais simples que se queira, a morte de um Papa não é simples. Os jornais noticiaram que a Guarda Suíça começou os preparativos para a cerimónia fúnebre; a Guarda Suíça negou tal coisa, em comunicado. É normal que haja alguma preparação, mesmo que a situação de saúde do Papa não seja grave, porque estas coisas não se improvisam, e, nalguns casos, é preciso antecipar-se. Por exemplo, poucos dias antes de João Paulo II morrer, começou a montar-se na praça de S. Pedro a bancada dos jornalistas, porque uma bancada para milhares de pessoas não se monta num dia.
Possivelmente, nem os médicos estão seguros dos seus prognósticos, optimistas ou pessimistas. Para muitos de nós, a única segurança é que o Papa estás nas mãos de Deus, apoiado na oração da Igreja. Já era assim no tempo do primeiro Papa.
Quando Pedro estava preso, agrilhoado com correntes, vigiado por 4 grupos de 4 soldados, «enquanto Pedro era mantido na prisão, a Igreja rezava continuamente a Deus por ele». Uma oração que foi eficaz, porque Deus enviou o seu Anjo e libertou Pedro.
Mais impressionante ainda é a oração de Jesus por Pedro: «Eu roguei por ti, para que a tua confiança não desfaleça; e tu, uma vez convertido, confirma os teus irmãos».
Qual a origem histórica deste mistério único, que se concentra em Pedro e nos seus sucessores? Qual a origem desta exigência acima de todas as outras: «Pedro, tu amas-me mais do que estes?». Três vezes, perguntou a Pedro se O amava.
Na quinta-feira passada, o Evangelho da Missa terminava com as palavras de Cristo a Pedro «Vai-te, satanás, porque não compreendes as coisas de Deus, mas só as dos homens». Os exegetas explicam que a palavra «satanás» significa «adversário»; embora a tradução da Conferência Episcopal Portuguesa, escreva «Satanás» com maiúscula, dando-lhe um cunho mais pessoal. De qualquer maneira, é difícil imaginar um contraste mais forte entre Cristo e Pedro. Mas o opositor de Cristo foi o escolhido por Cristo para O representar e reunir em torno de si a Igreja inteira.
A única explicação válida para o papel de Pedro e dos seus sucessores assenta na escolha divina nítida e irrevogável. Por que é que Cristo quis fundar a Igreja? E escolher Pedro? Só o próprio Cristo conhece o mistério.
Todas as análises sociais, comunicacionais, intelectuais… ficam aquém se ignorarem a escolha misteriosa de Deus. Mais do que discutir, convém-nos rezar. É esse, entre outros, o papel da celebração litúrgica de ontem (sábado), intitulada festa da Cátedra de São Pedro, apóstolo.
O Papa recebeu um encargo preciso e a Igreja recebeu uma missão igualmente importante. De joelhos, em frente do hospital, ou a milhares de quilómetros de distância, somos o apoio do Papa.