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Crise de sentido

  • Março 9, 2025
  • Cultura
  • João Baptista Teixeira

Nos hospedamos na esquina das ruas General Osório e General Neto. Arrisco que se trata de uma das esquinas que mais simbolizam bravura no mundo. É possível, porém, que tais figuras históricas hoje digam pouco aos tantos que por estas ruas caminham ou trafegam.

Saber das coisas é pedra angular para o futuro de qualquer país.

Tomei o elevador para me dirigir ao café da manhã. Quando a porta se abriu vi dois meninos. O mais velho deve ter oito anos enquanto o menor não passa dos cinco. Dirigi a eles a pergunta clássica: como se chamam? Teo, respondeu o mais velho. E o menor? Moisés. Quem escolheu tais nomes certamente tem uma perspectiva espiritual. Provavelmente cristã.

Quando descrevi a cena para minha esposa ela prontamente indagou: “E será que Moisés obedece ao Teo?”. Como é bom ser casado com uma moça inteligente e bem humorada!

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Dentro de nossas possibilidades começamos a assistir as produções que concorreram à premiação da academia hollywoodiana. Em noites espaçadas vimos anora, conclave, o brutalista e emilia pérez. Não estranhe, as letras minúsculas não decorrem de um engano. Estes filmes são produções menores. Não merecem letras maiúsculas.

Ontem nos programamos para assistir “A substância”.

Segundo uma resenha, tratava-se da história de uma atriz que não se consolara com o envelhecimento, buscara o rejuvenescimento por meio de uma droga e passara a enfrentar dificuldades.

O mote me lembrou Dorian Gray e Fausto. Caí no autoengano, e fantasiei. Imaginei que o texto apresentaria a dissonância entre a mente madura e o corpo bem mais jovem, o descompasso entre novos amigos e a experiência, mais seletiva.

Cada minuto do filme passou a destroçar minha veleidade. Quando achávamos que o filme não poderia ficar ainda mais cretino, eis que a máxima de que tudo sempre pode piorar assumiu o comando. Foi duro assistir até os créditos. Sei lá. Quem sabe algo pudesse surpreender a erupção de mau gosto dos efeitos especiais batidos, na linha de Alien, estrelado por Sigourney Weaver.

Esperamos até o fim. Fomos pródigos na concessão de chances. Para finalmente concluirmos que o mote fora trucidado. Trataremos de esquecer o tempo que desperdiçamos vendo esta bobagem.

Li,  minutos atrás, que um filme recente, com cenas de canibalismo e muita violência, até mesmo com animais, provocou vômitos, desmaios e abandono das salas de projeção. Sua produção causa assombro e o título sequer merece ser divulgado.

Sétima arte? Sua visível decadência não é filha do acaso. Diante de tais horrores, travestidos como cinema, reforço minha convicção de que não estamos num tempo de confusão ideológica, geopolítica ou de transição da modernidade. Estamos em meio a uma batalha espiritual, com forte cheiro de incenso e enxofre.

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Deus preparou o banquete para a humanidade, que entretanto insiste em ingerir lixo. A coisa nitidamente passou do ponto. Penso que a oferta massiva de entretenimento, como nos streamings, exige quantidade, o que resulta numa fábrica de porcarias. Pouca coisa se salva.

Não fomos criados para lutarmos por poder, nem para nos desgastarmos na mera satisfação de apetites. Se não há poesia, a vida torna-se mecânica, sem sentido. E tudo então se resume nas vaidades, na pobreza de alma e no mero desgaste das horas no esmeril do tempo.

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