Dia de poesia e de harmonia
A vibrar frescas brisas de infinito:
Aquecer corações de alegria
Fecundar as mentes de sentido.
Porquê só poemas de vates mortos,
Acordados do chão para vaticinar
E os vivos calados e absortos
Sem chispar luzes e profetizar?
Desassosseguem, já, Camões e Pessoa,
Para dar vaticínios fora do Limbo;
Passaram quinhentos, mais oitenta,
Subam do Tejo Tágides ao Olimpo;
O Vate dos Lusíadas, saneado de abril,
Se dê posto em trono e voz global,
Liberto de ameaças e gesto hostil,
Reconhecido grão poeta imortal.
Vibrem acordes a chorar e suplicar,
Cantem leves melodias bem medidas
Façam o indizível falar e alcançar
Sentidos de palavras acendidas.
Poesia não cabe em caixas
Nem é candeia em alqueires fechados;
Morre se a ligam em faixas
Só vibra se sobe em ares alados
Os poetas sonham sem medida
Para além dos fundos oceanos
E acima da luz azul perdida
A brilhar em espaços arcanos
Poesia é desejo que arde
Ânsia e suspiro de mais além
Em teima de alcançar e não chegar tarde:
Sem o todo gritar não se sente bem.
A esperança poética resiste;
Se cai e soçobra, logo reverdece,
Insiste e repete que sempre existe,
Revive no profeta e permanece.