Camilo José Cela foi um narrador espanhol, poeta e acadêmico, natural da Corunha, premiado por sua carreira com o Prêmio Nobel de Literatura em 1989; ele se destacou por abordar diferentes gêneros literários. Foi autor de romances, histórias, livros de viagens, ensaios, artigos de jornal, peças de teatro e poemas da corrente modernista; também escreveu um roteiro para filmes, e foi igualmente o fundador da revista literária ‘Papeles de Son Armadans’ (‘Documentos de Son Armadans’), na década de 1950, bem como da editora ‘Alfaguara’.
Já no ano de 1964, ele recebeu o doutorado honorário da Universidade de Syracuse, Estados Unidos. Aos 85 anos, morreu em Madri, como resultado de complicações pulmonares e cardíacas. Cela foi outorgado com os seguintes prêmios: Escudo do Primeiro Marquês de Iria Flavia; Prêmio da Crítica de Narrativa castelhana, 1956; Grã-cruz da Orden de Isabel a Católica, 1980; Prêmio Nacional de Narrativa, 1984; Prêmio Santo-Jordi das Letras, 1986; Prêmio Ramón de Carranza, 1986; Prêmio Príncipe de Asturias das Letras, 1987; como já vimos, o Prêmio Nobel de Literatura, 1989; Grã-cruz da Ordem de Carlos III, 1992; Prêmio Mariano de Cavia de Jornalismo, 1992; Prêmio Planeta, 1994; Prêmio Cervantes, 1995.
Quanto aos romances escritos pelo autor, destacamos entre os quatorze deles: seu primeiro, ‘A Família de Pascual Duarte’, 1942; ‘Histórias de Venezuela, 1955, Prêmio da Crítica de Narrativa castelhana; ‘Mazurca para os mortos”, 1983, Prêmio Nacional de Narrativa; e ‘A cruz de Santo André’, 1994, Prêmio Planeta.
Os contos em geral, os contos curtos e as fábulas preenchem mais de cinquenta obras.
Os artigos e ensaios percorrem aproximadamente trinta textos, o mesmo para os livros de viagens, e mais onze gêneros variados, assim considerados pelos editores.
Destaquei o grupo de poesias de Cela: ‘Pisando a duvidosa luz do dia”, poemas de uma adolescência cruel, 1945; ‘O monastério e as palavras’, 1945; ‘Cancioneiro da Alcárria, 1948; ‘Três poemas gauleses”, 1957; ‘A verdadeira história de Gumersinda Costuluela, uma garota que preferia a morte à desonra’, 1959; ‘Encarnação Toledano ou a queda dos homens’, 1959; ‘Viagem aos EUA ou quem a segue a mata’, 1965; ‘Dois romances de cego’, 1966; ‘Ampulheta, relógio de sol, relógio de sangue’, 1989; ‘Poesia completa’, 1996.
Quanto ao feitio de nosso autor, podemos afirmar que seu estilo narrativo é eclético e diferente em cada uma de suas obras; em alguns de seus primeiros romances, ele usou elementos do naturalismo, mas igualmente apelou para alguma violência, tanto nos eventos quanto na linguagem.
Os romances, como muitas de suas histórias, são ambientados em cidades espanholas durante a Guerra Civil, imediatamente antes ou após os anos seguintes; nada é adornado ou omitido na descrição de situações e personagens.
Cela também cultivou a narrativa experimental em algumas histórias, com a omissão deliberada de sinais de pontuação, o uso de monólogos interiores e outros recursos, sempre usando um léxico bruto e amargo; finalmente, como poeta, dedicou-se ao estilo surrealista e à escrita modernista.
Sabemos que Camilo José Cela era um autor extremamente prolífico, cuja obra literária excede cem publicações na vida; conhecemos seus poemas, romances, várias histórias, livros de histórias, artigos de jornais, ensaios, livros de viagens, memórias, peças de teatro, roteiro de filme e livros de lexicologia, tais como ‘Secret Dictionary’ (‘Dicionário Secreto’), Volume 1, de 1968, e ‘Dicionário Secreto’, Volume 2, de 1971, e ‘Popular Geographic Dictionary of Spain’ (‘Dicionário Geográfico Popular da Espanha’), de 1998.
Alguns dos poemas de Camilo José Cela: um dos primeiros de suas obras: ‘Desta solidão / Nem mesmo a morte surpreende mais. / (A morte é uma coisa / amarela e redonda / que o vento carrega e traz)’. Cela nos ensina: é inicial, “e em algumas outras ocasiões, já me referi à confusão que reinou na nossa literatura interior no imediato pós-guerra”. Continuamos: ‘A lama não é um cavalo, / um cavalo lindo e inteiro. / A lama é um boi muito grande, / mas cego. / Minhas mãos estão manchadas / daquela lama suja e espessa. / Minhas horas são como uma árvore / que está caída no chão. / Aqui está a lama, parece / que desliza dentro de mim. / Lama, lama é tudo, lama, / da terra para o céu!’.
Podemos conceber que, junto com alguma metáfora irracionais, há desânimo para o ser humano e seu meio ambiente. Além disso, o verso de Camilo José Cela vai muito mais longe: um poema bastante extenso, que tem como tema a morte e que a convoca através de imagens surpreendentes.
Aqui o temos: ‘Vem Morte, vem! / Vem, Morte, cercada de esquinas; / Vem, Morte como um sonho, por algas misteriosas, / Por corpos de carneiros, por pétalas de esquecimento. / Vem a morte como um dardo para cavalgar meu sangue! / Eles vêem a Morte, como um touro, personificada pelo zelo, / Para os crepúsculos tardios que guiam nossos dedos, / Oh agulha muito rápida, mar de feridas escuras!’ Para concluirmos: ‘Vem, vem, morte, amor; / vem rápido, eu te destruo; / Vem, eu quero matar ou amar ou morrer ou te dar tudo; / […].
No entanto, Cela está mais ríspido e sem esperança; o poeta deseja a morte, considera-a um “momento feliz ou pluma” ou “colo feliz” e a chama: ‘Vem, descansou a Morte, em forma de junco. / Morte, Morte de um só golpe, Morte clara e retumbante.’ Mas a morte não vem porque, como ela diz: ‘[…] Você não vê que as preocupações / Para continuar na Terra, os desejos, os dias, / Eles são meu único alimento? Você não vê que eu não quero / Morrer feliz, suicídio sem pecado?’ […] Diante da recusa da morte, o poeta sente ainda mais sua solidão: ‘Que profunda solidão é a do ressuscitado! / Que deserto acreditando que meu corpo exausto / Deveria ter sido a pedra de seu templo azul!’
Terminando nosso texto, podemos afirmar que, quando se estuda a obra de Camilo José Cela, raramente consideramos seu trabalho poético; provavelmente, a força e a difusão de seus temas, romances e contos sobrepõem aos versos a ponto de escondê-los como se estivessem “debaixo do tapete”. No entanto, é muito significativo tudo que nos foi “oferecido” como tendências da poesia da época.