Um testemunho pessoal. Não há futuro cristão sem memória da Igreja. Digo os meus oito papas por eu ter vivido como batizado durante os seus pontificados e ter estado perto de alguns deles. Pouco direi de cada um; quase só experiências pessoais. Em relação às belas coisas ditas de alguns papas, pensam alguns que em vez de condenar ou louvar os mortos convém mais rezar por eles como a Igreja ensina; todos podem precisar de oração e o Papa Francisco agradece-a no testamento.
O meu primeiro papa foi Pio XI, falecido em 10 de fevereiro de 1939. Aos 9 anos, fui convidado pela Acção Católica da minha paróquia para ir à Sé de Leiria à missa das suas exéquias. Caminhámos 6 horas a pé, em jejum, para poder comungar na missa pelo meio-dia. Foi Papa durante a guerra da Espanha e quando alastraram grandes calamidades do século XX: Nazismo, Comunismo e Fascismo. Foi também o Papa da “Conciliazione”, razão da rua com esse nome em Roma.
Pio XII, eleito em 2 de março de 1939, faleceu a 9 de outubro de 1958, em Castelo Gandolfo: Esperámos horas antes de passar em oração diante do seu corpo já amortalhado. No dia seguinte percorremos de hábito e vela acesa no cortejo processional de S. João de Latrão à basílica de S. Pedro. Durante os três anos a estudar em Roma gostava de participar nas audiências gerais de S Pedro em que este Papa, de cadeira gestatória era visto e aclamado por todos. Por ocasião de congressos, pronunciava sábios discursos aos médicos católicos e a outros cientistas. Foi Papa na II Grande Guerra.
No dia 28 de outubro de 1958, corri com outros da Ilha Tiberina quando saiu “fumo branco” do conclave para assistir ao “habemus papam” de João XXIII, na Praça de S. Pedro. E em 27 de novembro desse ano, na inauguração do ano académico da Universidade Lateranense, que eu frequentava, ouvi a sua oração de sapiência sobre os Padres da Igreja com temas que ele tinha lecionado ali há trinta anos. Foi o Papa do primeiro período do Vaticano II que ele anunciou em 25 de dezembro de 1961, criando grandes expetativas, e abriu em 11 de outubro do ano seguinte. Durante três anos participei numa peregrinação de doentes com ele na Basílica de S. Pedro. Vivi os restantes anos em Portugal até à sua morte, em 3 de junho de 1963 e ao encerramento do Concílio por Paulo VI em 8 de dezembro de 1965 e nos anos do período pós conciliar dos papas seguintes. Este Papa insistia no que une a humanidade.
Paulo VI, eleito a 21de junho de 1963, continuou o Vaticano II e enfrentou problemas e desvios pós conciliares até à sua morte a 6 de agosto 1978, em Castelo Gandolfo. Iniciou as viagens apostólicas fora da Itália; e foi o primeiro papa a visitar Fátima a 13 de maio de 1967. Foi o Papa que deu Fátima ao mundo e o segundo Papa do Vaticano II.
João Paulo I, eleito a 26.08.1978, faleceu a 28 de setembro de 1978 após papado curtíssimo de 33 dias. Ficou conhecido como o “Papa do sorriso”.
João Paulo II eleito a 16 de outubro de 1978, faleceu a 2 de abril de 2005, após 26 anos e 168 dias de pontífice. Chamei meus papas aos anteriores; a este com mais razão. Nos anos 1970 comecei a ir a Roma para os capítulos gerais, reuniões de comissões e congressos internacionais de pastoral do Vaticano na Sala do Consistório onde apresentei algumas comunicações e moderei duas sessões. Tive oportunidade de me encontrar com este Papa em duas audiência aos membros do Capítulo Geral da Ordem Hospitaleira oferecendo-lhe dois dos meus livros. Foi dos papas que mais viagens apostólicas fez, três das quais a Fátima, 1982, 1991 e 2000. Concelebrei duas vezes em Lisboa nas suas visitas a Fátima e Portugal, visitei a sua terra natal e a que foi a sua Catedral de bispo em Varsóvia. Foi o Papa corajoso da “Cortina de Ferro” comunista. O que mais me tocou, tanto no auge da sua vida apostólica gloriosa como na vida dolorosa de que tive ocasião de escrever. Foi semelhante à do Papa Francisco que no testamento a «ofereceu pela paz e fraternidade no mundo».
Bento XVI, eleito a 19 de abril de 2005, renunciou em 28 de fevereiro de 2013 e faleceu a 31 de dezembro de 1922 com 95 anos. Visitou Lisboa, Fátima e Porto nos dias 11-14 de maio de 2010. Participei nessa peregrinação no encontro do Papa nas Vésperas com os sacerdotes e religiosos na Basílica da SS Trindade no dia 12 à tarde e na Missa concelebrada no Santuário no dia 13. Participei, ainda, em Roma nos dias 9-11 de junho de 2010 no Encerramento do Ano Sacerdotal em que presidiu à missa com 16.000 sacerdotes na Praça de S. Pedro. Foi o Papa teólogo.
O Papa Francisco eleito em 13 de março de .2013 e falecido a 21 de abril 2025, visitou Fátima no dia 13 de maio de 2017, na peregrinação centenária em que participei e percorreu o mundo no seguimento dos três papas anteriores. Foi o Papa de muitas e largas aberturas, inovações e questões pendentes.
Que papa virá a seguir? Semelhante, como nos últimos dias muitos desejaram com entusiasmo ou diferente dele? Um papa que tenha o consenso do Espírito Santo será o meu Papa. Dele ouviremos falar. Por agora é-nos pedida oração confiante e esperança firme que a Igreja que Cristo fundou não se afundará. Com Cristo “caminhamos na Esperança” segundo o tema da peregrinação de Bento XVI, de 13 de maio de 2010 a Fátima e do Jubileu 2025.
Funchal, Domingo da Misericórdia, 27 de abril de 2025