O Dia da Europa assinala o aniversário da Declaração Schuman, apresentada em 9 de Maio de 1950. Esta iniciativa marcou uma nova era para a paz, a integração e a cooperação democrática na Europa, lançando as bases para a União Europeia.
Na comemoração do seu 75.º e tendo presente que a cultura da Europa nasceu do encontro entre Jerusalém, Atenas e Roma, no encontro entre a Fé no Deus de Israel, a Razão filosófica dos gregos e o pensamento jurídico de Roma, faço uma breve reflexão sobre este continente que gerou sabedoria, teve consciência da responsabilidade do Homem perante Deus, da sua dignidade inviolável, da sua liberdade e fraternidade, consequência deste tríplice encontro, que esteve na origem da nossa civilização.
No rescaldo da II Grande Guerra a Europa entrou num sono lento, perdeu a sua antiga hegemonia, o seu brilho de esperança e de confiança na sua antiga civilização, nas suas origens e no seu destino.
Os horrores vividos nas duas grandes guerras, a fragmentação entre o leste e o ocidente, a Guerra Fria, fragilizaram este velho continente.
A ideia de unificar a Europa foi uma nobre iniciativa na procura duma defesa em comum na economia e na eventual estabilidade de paz.
Em boa hora, no dia 9 de Maio de 1950, Robert Schuman, ministro francês dos Negócios Estrangeiros, apresentava o projecto fundador da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço – CECA. A seu lado, o verdadeiro inspirador do projecto, estava Jean Monet.
Todavia, novos desafios políticos, culturais e espirituais fizeram tremer a sociedade ocidental, esterilizando intelectualmente a herança europeia que tinha tido como suporte uma raiz alicerçada nos valores morais de base filosófica grega reforçados numa ética cristã de cariz transcendental.
Oriundos de idealismos marxistas, com nuances de “rive gauche”, novos pensadores franceses e alemães, deram largas à sua profusão politico-filosófica, originando uma revolução intelectual, social, antropológica e religiosa, com acentuada crise de consciência, de identidade e de personalidade.
Um vazio axiológico e de sentido de vida, foi-se instalando, paulatinamente, nesta civilização cujo ideal de excelência, de magnanimidade, de bem ser e de bem fazer, lhe foi inculcada ao longo dos séculos pela civilidade característica da mentalidade europeia, da sua filosofia, da sua arte e religião.
Uma revolução silenciosa gerou um choque de civilizações em toda a Europa, com tensões culturais, étnicas e sociais muito intensas.
Quando a Europa despertar, urge o retorno ao passado histórico, único e inolvidável, reactualizando os princípios vivos de um específico e único “modus vivendi”.
Todas as grandes civilizações assentam numa tradição com a qual atravessam os tempos. Todas têm na sua origem um livro do seu fundador, um poeta, um sábio ou um profeta a que podem recorrer como fonte de energia espiritual e de onde surgiu o impulso inicial da sua civilização há vários milénios.
A Europa tem também uma enorme tradição que não pode esquecer, tem Homero, tem a Filosofia grega, tem o Cristianismo, as Universidades, tem o seu muito genuíno modo de ser, de estar, de querer, de fazer e de sonhar.
Saber ou recordar que se é filho de Ulisses, de Penélope e não de Maomé, de Confúcio ou de Buda, não nos pode deixar indiferentes…